Gilvan Rocha
Com a chegada do PT e do PCdoB ao governo, muitos são os que proclamam estar a esquerda no poder. Essa afirmação comete dois gravíssimos erros de natureza política. O primeiro é imaginar que PT e PCdoB são de esquerda. Caso consideremos de esquerda, as posições anticapitalistas, concluiremos que os citados partidos nada têm de esquerda.
Se por ventura, houve no PT, um sentimento anticapitalista, com o andar da
carruagem, prevaleceu à adesão desse partido a condição de força de sustentação
da ordem socioeconômica vigente. Isso ficou claro com a “Carta ao Povo
Brasileiro”, documento em que o PT se propunha a garantir os interesses maiores
do sistema.
Empenharam-se em mostrar que o “leão era mansinho e desdentado”. Procuraram garantir que as linhas gerais do Plano Real seriam mantidas. Não bastassem essas garantias, comprometiam-se em nomear para o Banco Central, alguém da confiança do grande capital.
As promessas foram cumpridas, e o PT se prestou a
promover um trabalho de engessamento do movimento popular. Ao lado da paralisia
dos movimentos populares e sindicais, processou-se um trabalho de construção de
um imenso colégio eleitoral, base de sustentação política para o petismo,
através do Bolsa Família.
Esse conjunto de medidas assegurava à burguesia, a
“paz social” para que fossem auferidos grandes lucros, sem maiores
estremecimentos. Em troca de tantos serviços prestados, o PT passou a merecer
os mimos dos afortunados, especialmente dos empreiteiros, que nunca se negaram
a regar, com gordas doações, os caixas de campanha.
Quanto ao PCdoB que, mesmo equivocado, era um partido de teor ideológico, transformou-se em uma agremiação fisiológica e até vem contribuindo para uma nova “formulação política”, qual seja, a do “caminho para o socialismo, através do esporte”. A combatividade e os mártires desse partido, ocorridos outrora, não podem servir de salvo-conduto para a sua vergonhosa capitulação.
Esquerda não são, nem PT, nem PCdoB! Por sua
vez, essas organizações chegaram, apenas, ao governo. É bom salientar, porém,
que há uma diferença abismal entre governo e poder. Governos vão e vêm, têm um
caráter episódico, enquanto isso, o poder tem caráter permanente. O poder é o
Estado, e mudanças de governo não implicam na desconstrução do Estado. Ele
permanece pronto para defender os interesses do capitalismo. Esquerda no poder
é um disparate, próprio de pessoas de má fé ou politicamente desinformadas.
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