Independente da
denominação partidário de quem sai ou de quem entra a questão é que sempre
queremos melhoras e não retrocessos. Quem se contenta com a estagnação ou com o
agravamento da política pública, quer seja por inconsciência política ou por
interesse de favorecimento próprio, pode, inescrupulosamente, ser chamado de
LOUCO.

Retomando nossas reflexões acerca das
questões políticas, permitam-me fazer uma ressalva com relação a estes textos
aqui postados. Seja absolutamente esclarecido que o objetivo pretendido não é,
em hipótese alguma, defender ideias filosóficas ou fazer prevalecer uma
ideologia política pautada em interesses pessoais ou de dominação. Tão pouco,
se pretende fazer apologias partidárias, pois é óbvio que todas as teorias
filosóficas, sem exceção, inevitavelmente, apresentam muitos ou poucos sinais
de contradições, ideologias ou tendencialidades. Deste modo, o importante é
conhecê-las, trazê-las à nossa realidade atual e analisar criticamente o nosso
presente alicerçados em experiências anteriores, para não cometermos os mesmos
erros ou, de outro modo, podermos acertar como “acertaram” nossos antepassados.
Alguns podem inferir: “que adianta ficar nesse refletir, pensar, discutir se
não se chega a lugar algum, concretamente falando?” ou “o que foi dito e
pensado ficou lá no passado, agora é diferente!”. A consciência sã e coerente
há de admitir: “quem age sem pensar, pensa depois: por que agi dessa forma?!”.
E pensar é analisar tudo e ficar com o que é
BOM.
Dada a introdução, o segundo ensaio propõe
uma sutil retomada ao que já discutimos no primeiro e a abordagem de um novo
tema com um novo conceito: Platão e sua sofocracia.
Obviamente, o pensamento platônico se
aplica muito mais à realidade política e cultural de sua época do que a nossa.
E é bom lembrar ao leitor que estamos partindo de um itinerário político
histórico em gradativas mudanças, ou seja, um tempo histórico ou uma estrutura
de pensamento pode ser superado pelo seu sucessor, mas algo permanece como
contribuição à posteridade. Sendo assim, o que Platão pensou pode e deve ser
entendido e reinterpretado por nós a partir da nossa própria realidade e com a
finalidade de nos ajudar a progredir POLITICAMENTE.
Platão está inserido num contexto social que
já discutimos no ensaio anterior: da Pólis
(Cidade) grega com seus Politikós
(cidadãos) em efervescente florescimento da
Democracia Direta. Contudo, ele nasce quando morre Péricles, o legislador
que teria levado Atenas ao seu apogeu democrático, e testemunha certa degradação
desse auge político, assim como nós, quando vemos nossa cidade evoluindo e ao
mudar seu gestor, de repente pode começar a degenerar. Independente da
denominação partidário de quem sai ou de quem entra a questão é que sempre
queremos melhoras e não retrocessos. Quem se contenta com a estagnação ou com o
agravamento da política pública, quer seja por inconsciência política ou por
interesse de favorecimento próprio, pode, inescrupulosamente, ser chamado de
LOUCO (A).
É repugnante, asqueroso e nojento pensar que alguém saiba que determinado político, CONSCIENTEMENTE, está se aproveitando de seu cargo para benefício próprio e dos seus “ALIADOS” ou está fazendo uma administração pública péssima e irresponsável e mesmo assim, sabe-se lá por quais motivos, o que de modo algum justifica, concorda, defende e apoia a permanência do mesmo no poder.
Com a democracia Pericliana surgem os
chamados sofistas que, em detrimento
à democracia, ensinam o ideal da Demagogia
– pode ser entendida como a arte de adular a opinião pública por intermédio da
eloquência discursiva, justamente o que vemos nos dias de hoje nos comícios,
campanhas políticas e promessas de favorecimentos a possíveis aliados. Nossos
políticos, atualmente, são verdadeiros demagogos
e nós, não só os aceitamos assim como queremos que eles sejam assim. Que nos
embriaguem com suas promessas fantasiosas e, na maioria das vezes,
irrealizáveis. Nós nos unimos a eles como quem se une a uma torcida de futebol;
torcemos, brigamos, elevamos a imagem desses políticos demagogos que têm como
única intenção o PODER – “capacidade
ou possibilidade de agir ou produzir efeitos DESEJADOS sobre indivíduos ou
grupos” – voltaremos a esse conceito quando adentrarmos a política moderna.

É repugnante, asqueroso e nojento pensar que
alguém saiba que determinado político, CONSCIENTEMENTE, está se aproveitando de
seu cargo para benefício próprio e dos seus “ALIADOS” ou está fazendo uma
administração pública péssima e irresponsável e mesmo assim, sabe-se lá por
quais motivos, o que de modo algum justifica, concorda, defende e apoia a
permanência do mesmo no poder. Este não é e nunca foi um
Politikós (cidadão) de sua cidade, mas é e sempre será um ser
irracional, egocêntrico e individualista e nada mais merece se não o
Ostracismo.
Prescindindo
do ideal utópico que Platão traz em seu discurso – e temos que admitir que esse
ideal é tão utópico para a época dele quanto para a nossa – analisemos o famoso
termo usado no seu livro
A República,
a
SOFOCRACIA. Ele se constitui da
junção de dois termos, do grego,
sophós
– sábio, e
kratia – poder ou governo.
Ou seja,
sofocracia seria o governo
do sábio ou do filósofo, num sentido mais platônico-aristocrático, o governo
dos sábios e/ou filósofos.
Se alguém pensa que é impossível que o povo seja esclarecido e crítico é porque não tem esperança na sua própria política e talvez não queira ter, pois está muito bem do jeito que está.
Para Platão, somente quem chegasse à alma de
ouro, o filósofo, que estudou 50 anos a fio, seria capaz de governar a cidade e as questões públicas. Isto não
porque ele era soberbo e arrogante em achar que só o filósofo (ele se incluía
nesse perfil) teria capacidade para governar. A questão suscitada por Platão
era que, para se governar uma cidade seria extremamente necessário ter CONHECIMENTO, este por sua vez, suscita
no indivíduo a virtude da justiça, que define o que é bom ou ruim para a cidade
e seus cidadãos. Essa justiça só é alcançada, segundo ele, por quem se dedica à
“filosofia”, ou no mínimo, ao criticismo, ao espanto perante o mundo em que
vive, ao não compactuar com ideias prontos que nos são entregues, quando não
impostas, à libertação daqueles que ainda vivem presos a ideologias e
alienações – podemos citar aqui o Mito da Caverna que retrata essa ideia
platônica de que, geralmente vivemos presos em “mundos” de aparências e quando
nos libertamos, inevitavelmente, voltamos para tentar libertar os demais, no
entanto, estes não aceitam a verdade, preferem ficar presos na obscuridade e
ainda matam o portador da verdade. Será que não estamos matando os portadores
das “verdades políticas” porque não
queremos aceitar a verdade de que este ou aquele político é corrupto ou
irresponsável? Será que não preferimos viver na comodidade da ignorância a
empreendermos uma sofocracia na nossa consciência e só permitir nela uma política
verdadeira, justa e sábia – no verdadeiro e mais puro sentido desta
palavra?
Platão propõe, de fato, uma utopia, pois é praticamente
impossível termos sábios no poder que sejam sempre justos. Temos vários
exemplos de homens sábios e estudados que se corromperam por causa do poder.
Mas, seu ideal de
sofocracia unido ao de
democracia edifica um
novo sentido de prática política, a
DEMOSOFOCRACIA
– admito que formulei um neologismo –,
o
governo do povo sábio. Ou seja, se essa sabedoria for buscada e exercida
por quem de fato detém o poder – o povo – então teremos uma nova possibilidade
de reforma política, onde o povo esclarecido, crítico, abastecido da justiça
que brota da sabedoria e, principalmente, avesso a todo e qualquer tipo de
corrupção irá, de fato, gerir sua
Pólis
(Cidade). Utópico??? Pode até ser! Mas se alguém pensa assim, esse não é
Politikós (Cidadão). Se alguém pensa que
é impossível que o povo seja esclarecido e crítico é porque não tem esperança
na sua própria política e talvez não queira ter, pois está muito bem do jeito
que está.
Se a nossa política está do jeito que está,
não é simplesmente porque há uma parcela de pessoas que se corromperam ou se
corrompem ao se inserirem no âmbito político; não é porque o dinheiro corrompe
ou porque é necessário fazer alianças ao entrar no poder para conseguir
mantê-lo. Estamos vivendo uma política enferma, estragada, insustentável porque
nós – o povo – não estamos sendo sábios. Estamos sendo demagogos, fazendo,
aceitando e concordando com discursos ilusórios, mentirosos, HIPÓCRITAS e
alienantes. Estamos abrindo mão da nossa inteligência, sabedoria e do poder
demosofocrático para aceitar os absurdos de gestões que se espalham pelo mundo
todo.
Se há corrupção é porque nós nos corrompemos
nas filas dos bancos ao infringi-las; nós vendemos nosso voto em troca de
estabilidade financeira, promessas de emprego, favorecimento licitatório; nós
permitimos que alguém roube porque afirmamos, para nós mesmos, que a Pólis
(Cidade) não é nossa, mas é de quem a governa; nós operamos com lucros
indevidos nos comércios; nós tomamos posse do que não é nosso; nós temos a
mania de dar “um jeitinho brasileiro” nas coisas só para nos sobressairmos
perante os outros. Esta é uma questão de ética pessoal, tema que abordaremos em
breve nos nossos ensaios.
A questão é: por que fechamos nossos olhos
frente ao errado só porque sou partidário? Por que não questionarmos o erro
mesmo sendo deste ou daquele partido? Será que não estamos mesmo querendo ser
mais um “
Burrocrático” – mais um
neologismo, ou seja, um poder dos tolos – no mundo? Pela compreensão da
política democrática direta grega e do termo platônico da sofocracia podemos,
enfim, entender onde pode estar o problema da política atual, que é
infelizmente no POVO. Por isso é importante a filosofia, o estudo, o
criticismo, o que os tolos chamam de “discutir, discutir sem chegar a lugar
algum!”. Enquanto muitos pensam assim, outras muitas consciências estão sendo
formadas a partir dessas discussões. Outros
demosofocráticos
estão surgindo, mesmo que seja a passos lentos, quase imperceptíveis. Mas, é
esse processo moroso que vem mudando o mundo desde a existência humana.
No próximo ensaio, abordaremos a política
aristotélica, perpassando a questão da ética e da virtude da prudência.
Enquanto isso, vamos refletir juntos no que acabamos de elucidar.
Autor: Ivan
Carlos Reis de Oliveira.
Ótimo texto de Ivan Carlos, parabéns...
ResponderExcluirOtimo texto mestre Ivan!
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