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POLÍTICA, PARA QUÊ? – Platão e a política sofocrática | Por Ivan Carlos


Independente da denominação partidário de quem sai ou de quem entra a questão é que sempre queremos melhoras e não retrocessos. Quem se contenta com a estagnação ou com o agravamento da política pública, quer seja por inconsciência política ou por interesse de favorecimento próprio, pode, inescrupulosamente, ser chamado de LOUCO.




Retomando nossas reflexões acerca das questões políticas, permitam-me fazer uma ressalva com relação a estes textos aqui postados. Seja absolutamente esclarecido que o objetivo pretendido não é, em hipótese alguma, defender ideias filosóficas ou fazer prevalecer uma ideologia política pautada em interesses pessoais ou de dominação. Tão pouco, se pretende fazer apologias partidárias, pois é óbvio que todas as teorias filosóficas, sem exceção, inevitavelmente, apresentam muitos ou poucos sinais de contradições, ideologias ou tendencialidades. Deste modo, o importante é conhecê-las, trazê-las à nossa realidade atual e analisar criticamente o nosso presente alicerçados em experiências anteriores, para não cometermos os mesmos erros ou, de outro modo, podermos acertar como “acertaram” nossos antepassados. Alguns podem inferir: “que adianta ficar nesse refletir, pensar, discutir se não se chega a lugar algum, concretamente falando?” ou “o que foi dito e pensado ficou lá no passado, agora é diferente!”. A consciência sã e coerente há de admitir: “quem age sem pensar, pensa depois: por que agi dessa forma?!”. E pensar é analisar tudo e ficar com o que é BOM.

Dada a introdução, o segundo ensaio propõe uma sutil retomada ao que já discutimos no primeiro e a abordagem de um novo tema com um novo conceito: Platão e sua sofocracia.  Obviamente, o pensamento platônico se aplica muito mais à realidade política e cultural de sua época do que a nossa. E é bom lembrar ao leitor que estamos partindo de um itinerário político histórico em gradativas mudanças, ou seja, um tempo histórico ou uma estrutura de pensamento pode ser superado pelo seu sucessor, mas algo permanece como contribuição à posteridade. Sendo assim, o que Platão pensou pode e deve ser entendido e reinterpretado por nós a partir da nossa própria realidade e com a finalidade de nos ajudar a progredir POLITICAMENTE.

Platão está inserido num contexto social que já discutimos no ensaio anterior: da Pólis (Cidade) grega com seus Politikós (cidadãos) em efervescente florescimento da Democracia Direta. Contudo, ele nasce quando morre Péricles, o legislador que teria levado Atenas ao seu apogeu democrático, e testemunha certa degradação desse auge político, assim como nós, quando vemos nossa cidade evoluindo e ao mudar seu gestor, de repente pode começar a degenerar. Independente da denominação partidário de quem sai ou de quem entra a questão é que sempre queremos melhoras e não retrocessos. Quem se contenta com a estagnação ou com o agravamento da política pública, quer seja por inconsciência política ou por interesse de favorecimento próprio, pode, inescrupulosamente, ser chamado de LOUCO (A).

É repugnante, asqueroso e nojento pensar que alguém saiba que determinado político, CONSCIENTEMENTE, está se aproveitando de seu cargo para benefício próprio e dos seus “ALIADOS” ou está fazendo uma administração pública péssima e irresponsável e mesmo assim, sabe-se lá por quais motivos, o que de modo algum justifica, concorda, defende e apoia a permanência do mesmo no poder.

Com a democracia Pericliana surgem os chamados sofistas que, em detrimento à democracia, ensinam o ideal da Demagogia – pode ser entendida como a arte de adular a opinião pública por intermédio da eloquência discursiva, justamente o que vemos nos dias de hoje nos comícios, campanhas políticas e promessas de favorecimentos a possíveis aliados. Nossos políticos, atualmente, são verdadeiros demagogos e nós, não só os aceitamos assim como queremos que eles sejam assim. Que nos embriaguem com suas promessas fantasiosas e, na maioria das vezes, irrealizáveis. Nós nos unimos a eles como quem se une a uma torcida de futebol; torcemos, brigamos, elevamos a imagem desses políticos demagogos que têm como única intenção o PODER – “capacidade ou possibilidade de agir ou produzir efeitos DESEJADOS sobre indivíduos ou grupos” – voltaremos a esse conceito quando adentrarmos a política moderna. 

É repugnante, asqueroso e nojento pensar que alguém saiba que determinado político, CONSCIENTEMENTE, está se aproveitando de seu cargo para benefício próprio e dos seus “ALIADOS” ou está fazendo uma administração pública péssima e irresponsável e mesmo assim, sabe-se lá por quais motivos, o que de modo algum justifica, concorda, defende e apoia a permanência do mesmo no poder. Este não é e nunca foi um Politikós (cidadão) de sua cidade, mas é e sempre será um ser irracional, egocêntrico e individualista e nada mais merece se não o Ostracismo.

Prescindindo do ideal utópico que Platão traz em seu discurso – e temos que admitir que esse ideal é tão utópico para a época dele quanto para a nossa – analisemos o famoso termo usado no seu livro A República, a SOFOCRACIA. Ele se constitui da junção de dois termos, do grego, sophós – sábio, e kratia – poder ou governo. Ou seja, sofocracia seria o governo do sábio ou do filósofo, num sentido mais platônico-aristocrático, o governo dos sábios e/ou filósofos.

Se alguém pensa que é impossível que o povo seja esclarecido e crítico é porque não tem esperança na sua própria política e talvez não queira ter, pois está muito bem do jeito que está.

Para Platão, somente quem chegasse à alma de ouro, o filósofo, que estudou 50 anos a fio, seria capaz de governar a cidade e as questões públicas. Isto não porque ele era soberbo e arrogante em achar que só o filósofo (ele se incluía nesse perfil) teria capacidade para governar. A questão suscitada por Platão era que, para se governar uma cidade seria extremamente necessário ter CONHECIMENTO, este por sua vez, suscita no indivíduo a virtude da justiça, que define o que é bom ou ruim para a cidade e seus cidadãos. Essa justiça só é alcançada, segundo ele, por quem se dedica à “filosofia”, ou no mínimo, ao criticismo, ao espanto perante o mundo em que vive, ao não compactuar com ideias prontos que nos são entregues, quando não impostas, à libertação daqueles que ainda vivem presos a ideologias e alienações – podemos citar aqui o Mito da Caverna que retrata essa ideia platônica de que, geralmente vivemos presos em “mundos” de aparências e quando nos libertamos, inevitavelmente, voltamos para tentar libertar os demais, no entanto, estes não aceitam a verdade, preferem ficar presos na obscuridade e ainda matam o portador da verdade. Será que não estamos matando os portadores das “verdades políticas” porque não queremos aceitar a verdade de que este ou aquele político é corrupto ou irresponsável? Será que não preferimos viver na comodidade da ignorância a empreendermos uma sofocracia na nossa consciência e só permitir nela uma política verdadeira, justa e sábia – no verdadeiro e mais puro sentido desta palavra? 

Platão propõe, de fato, uma utopia, pois é praticamente impossível termos sábios no poder que sejam sempre justos. Temos vários exemplos de homens sábios e estudados que se corromperam por causa do poder. Mas, seu ideal de sofocracia unido ao de democracia edifica um novo sentido de prática política, a DEMOSOFOCRACIA – admito que formulei um neologismo –, o governo do povo sábio. Ou seja, se essa sabedoria for buscada e exercida por quem de fato detém o poder – o povo – então teremos uma nova possibilidade de reforma política, onde o povo esclarecido, crítico, abastecido da justiça que brota da sabedoria e, principalmente, avesso a todo e qualquer tipo de corrupção irá, de fato, gerir sua Pólis (Cidade). Utópico??? Pode até ser! Mas se alguém pensa assim, esse não é Politikós (Cidadão). Se alguém pensa que é impossível que o povo seja esclarecido e crítico é porque não tem esperança na sua própria política e talvez não queira ter, pois está muito bem do jeito que está.

Se a nossa política está do jeito que está, não é simplesmente porque há uma parcela de pessoas que se corromperam ou se corrompem ao se inserirem no âmbito político; não é porque o dinheiro corrompe ou porque é necessário fazer alianças ao entrar no poder para conseguir mantê-lo. Estamos vivendo uma política enferma, estragada, insustentável porque nós – o povo – não estamos sendo sábios. Estamos sendo demagogos, fazendo, aceitando e concordando com discursos ilusórios, mentirosos, HIPÓCRITAS e alienantes. Estamos abrindo mão da nossa inteligência, sabedoria e do poder demosofocrático para aceitar os absurdos de gestões que se espalham pelo mundo todo.

Se há corrupção é porque nós nos corrompemos nas filas dos bancos ao infringi-las; nós vendemos nosso voto em troca de estabilidade financeira, promessas de emprego, favorecimento licitatório; nós permitimos que alguém roube porque afirmamos, para nós mesmos, que a Pólis (Cidade) não é nossa, mas é de quem a governa; nós operamos com lucros indevidos nos comércios; nós tomamos posse do que não é nosso; nós temos a mania de dar “um jeitinho brasileiro” nas coisas só para nos sobressairmos perante os outros. Esta é uma questão de ética pessoal, tema que abordaremos em breve nos nossos ensaios.


A questão é: por que fechamos nossos olhos frente ao errado só porque sou partidário? Por que não questionarmos o erro mesmo sendo deste ou daquele partido? Será que não estamos mesmo querendo ser mais um “Burrocrático” – mais um neologismo, ou seja, um poder dos tolos – no mundo? Pela compreensão da política democrática direta grega e do termo platônico da sofocracia podemos, enfim, entender onde pode estar o problema da política atual, que é infelizmente no POVO. Por isso é importante a filosofia, o estudo, o criticismo, o que os tolos chamam de “discutir, discutir sem chegar a lugar algum!”. Enquanto muitos pensam assim, outras muitas consciências estão sendo formadas a partir dessas discussões. Outros demosofocráticos estão surgindo, mesmo que seja a passos lentos, quase imperceptíveis. Mas, é esse processo moroso que vem mudando o mundo desde a existência humana.

No próximo ensaio, abordaremos a política aristotélica, perpassando a questão da ética e da virtude da prudência. Enquanto isso, vamos refletir juntos no que acabamos de elucidar.


Autor: Ivan Carlos Reis de Oliveira.

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