“[...] como
minha intenção é escrever o que tenha utilidade para quem estiver interessado,
pareceu-me mais apropriado abordar a verdade efetiva das coisas, e
não a imaginação” Maquiavel, O Príncipe.
Desde Platão e sua Pólis governada por filósofos,
passando por Santo Agostinho e a “Cidade de Deus”, Rousseau e a república
calcada no “Contrato Social”, Thomas Morus e a “Sociedade Utópica”, Marx e a
concepção de uma sociedade sem classes, até chegarmos ao início da década de 70
do século passado com a “Teoria da Justiça” sugerida pelo norte-americano John
Rawls, Maquiavel desafiou autores de tempos passados e futuros e suas obras
políticas que tratam da política como ela deveria ser, mas nunca se
concretizaram como um sistema, como cidade ou como país.
Há
séculos somos e seremos bombardeados com promessas de uma cidade, estado ou
país melhores, perfeitos. Os políticos perceberam que seus eleitores querem morar
na cidade utópica de Thomas Morus, sem guerras, sem fome e com justiça. Que a
hierarquia celeste proposta por Santo Agostinho para uma cidade governada por
Deus e seus subordinados: santos, arcanjos, querubins, etc., serviria de
exemplo para uma perfeita organização social do poder entre os homens ou,
simplesmente, regidos pelas leis da vontade geral do contrato social
estabelecido entre eles para regular a vida em sociedade, ou ainda uma
sociedade sem classes sociais, sem Estado e com total abolição da propriedade
privada dos meios de produção. Cada candidato tenta imprimir ao seu discurso a
ideia pouco original de um mundo melhor.
É bem
verdade que o candidato tem a percepção que o povo precisa renovar suas
esperanças a espera por dias melhores. Por isso seus discursos e teorias não
passam de mera imaginação e projetos fantasiosos. Nesse ponto os políticos
parecem ser maquiavélicos, pois usam muito mais a percepção que a imaginação,
pois qualquer promessa, por mais banal e tosca que seja, ainda pode iludir boa
parte dos eleitores.
Já o
eleitor, este está muito mais próximo dos autores políticos e suas obras
consagradas como mensagens verdadeiras, mas combatidas por Maquiavel, uma vez
que usam muito mais a imaginação que a percepção. Maquiavel acha profícuo
escrever sobre política tratando da verdade efetiva das coisas, trazendo as
questões para o mundo das percepções e abandonando o mundo das ideias.
Maquiavel
apresenta em sua obra “O Príncipe” as experiências próprias e de outros homens
e delas traz à tona sábias conclusões que remetem à prudência como forma de bem
agir para alcançar determinado fim. No entanto, Maquiavel não se refere à
prudência como a escolha da melhor ação decorrente de suas preferências em
relação a um grande feito em detrimento de outro à altura.
A
natureza humana como tal é o ingrediente que dá sentido as suas lições. Sem
levar em conta a natureza do homem não haverá verdade nos ditos de Maquiavel,
pois sua obra não passaria de um resultado estático de sua época, de costumes
que já se perderam com o tempo.
O eleitor
precisa ser prudente ao votar e nunca subestimar a verdade efetiva das coisas.
Tampouco a natureza humana, principalmente quando manifestada e aflorada nos
candidatos ávidos por votos.
Nenhum
autor poderia ser considerado realista sem introduzir em sua obra a natureza
humana, pois negar o homem como ele é não passa de idealismo e, nesse caso, não
seria útil para além do seu tempo. Maquiavel vê nos feitos políticos a natureza
humana para fundamentar a realidade, pois “quem despreza o que se faz pelo
que deveria ser feito aprenderá a provocar a sua própria ruína” Maquiavel,
O Príncipe.
Portanto,
eleitor, não se iluda. Seja maquiavélico ao votar!
Autor: o correio
de Paraty
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